3R Genus Hedge FIM – Carta Mensal Setembro/2020
Prezado Investidor,
O 3R Genus Hedge FIM (GH) rendeu +0,21% em setembro (134% do CDI). No ano, o fundo está acumulado em +10,54% (+461% do CDI).
Tivemos um mês razoável, ganhamos menos do que esperaríamos para um mercado com ativos de risco caindo. O resultado do mês foi bastante impactado pelo crescente deságio das LFTs (título público pós-fixado).
Vale aqui um esclarecimento. Sempre mantivemos a grande parte, ou a totalidade, do caixa do fundo em ativos de baixíssimo risco. E o fundo precisa ter na sua carteira ativos com um duration mínimo, de maneira a viabilizar o enquadramento do fundo como “fundo de longo prazo” para fins fiscais, resultando numa alíquota de IR de 15% para os cotistas.
Desde os momentos seguintes à eclosão da pandemia tínhamos a preocupação com a questão fiscal, e por isto rapidamente zeramos nossas posições em outros títulos públicos, já esperando uma forte abertura da curva de juros. Mantivemos posição em LFTs (título público pós-fixado) de curto e médio prazo, no limite para cumprir o duration mínimo necessário.
Apesar de nossa grande preocupação com o equilíbrio fiscal, não esperávamos que estas LFTs passassem a negociar com tanto desconto. Para deixar claro, isto é uma explicação, não uma desculpa ou justificativa.
Este movimento nas LFTs custou um resultado negativo de 0,49% ao fundo no mês de setembro. E continua a impactar muito nossa cota neste início de setembro (até ontem, 05/10/2020, tinha gerado um impacto negativo no mês de aprox. 0,5%). Decidimos não realizar o prejuízo, continuamos a carregar as LFTs que tínhamos. Pelo tamanho da posição podemos carregar até o vencimento, o que deveria resultar na reversão deste prejuízo ao longo do tempo. Mas antes disto, acreditamos que o BC vai ter que se render à realidade, e subir a Selic e/ou dar liquidez às LFTs.
Falando um pouco do cenário para frente, temos expressado nossa visão mais cautelosa a algum tempo, e o que aconteceu nos últimos 30 dias só piorou nossa percepção. Devemos nos preparar para a possibilidade de um período muito difícil à frente.
Todo mundo fala muito sobre a manutenção do teto de gastos, mas para nós este limite hoje é mais algo simbólico do que realmente a solução. Para quem analisa em detalhe as contas públicas já está claro que o teto não vai ser obedecido, considerando a proposta do orçamento para 2021 enviada pelo governo ao Congresso. E tal orçamento contém projeções consideradas pouco realistas por quem entende de contas públicas.
Mas o que para nós é mais importante, o Tesouro precisa emitir um volume imenso de dívida nova entre o final deste ano e 2021, e não existe comprador para tudo nos preços de hoje. Precisa pagar mais para “convencer” investidores a deixar de comprar ações, imóveis e outros ativos reais, e comprar dívida do governo. Acreditamos que vai ficar claro que Selic em 2% a.a. não representa o custo oportunidade do dinheiro.
Finalmente, nossa impressão é que a classe política está longe de ter claro o tamanho do problema. Não sabemos se por pouca interlocução com o time do Ministério de Economia, se por falha na comunicação do time econômico, ou se por uma leitura talvez ainda benigna demais por parte da equipe econômica. Para completar, estamos na metade do primeiro mandato presidencial, com a reeleição já no radar.
Talvez a única maneira de trazer todos para a realidade do problema fosse o Banco Central proativamente subir a Selic de maneira substancial (algo entre 5% e 8%), que deveria tornar mais viável a rolagem da dívida e emissão de dívida nova, e para deixar claro aos políticos que não é possível financiar a atual trajetória fiscal a 2%, e que é urgente um ajuste profundo. Este é um cenário menos provável, não vemos no time do BC/Tesouro disposição para um movimento agudo dessa magnitude, estes devem seguir tentando ganhar tempo, a espera de alguma melhora que viabilize uma saída.