3R Genus Hedge FIM – Carta Mensal Outubro/2020
Prezado Investidor,
O 3R Genus Hedge FIM (GH) rendeu +0,14% em outubro (89% do CDI). No ano, o fundo está acumulado em +10,70% (+437% do CDI).
Tivemos um mês razoável. O mês foi muito volátil, com ativos de risco performando muito bem boa parte do tempo, mas tendo forte realização na última semana do mês. Conseguimos gerar um alpha bem atraente nas estratégias de ações, mesmo com o mercado fechando próximo da estabilidade na comparação mensal. Mas outra vez o resultado do mês foi bastante impactado pelo crescente deságio das LFTs (título público pós-fixado).
Como comentamos na carta passada, mantivemos posição em LFTs (título público pós-fixado) de curto e médio prazo, no limite para cumprir o duration mínimo necessário. Este movimento nas LFTs custou um resultado negativo de aproximadamente 0,35% ao fundo no mês de outubro. Somado com setembro temos acumulado 1,0% de prejuízo (não realizado) nesta posição. Pelo tamanho da posição podemos carregar até o vencimento, o que deveria resultar na reversão deste prejuízo ao longo do tempo. Mas antes disto, acreditamos que o BC vai ter que se render à realidade, e subir a Selic e/ou dar liquidez às LFTs.
Nosso cenário macroeconômico e a visão mais cautelosa para ativos de risco não mudou. O risco fiscal já ganhou o “centro das atenções”, mas como comentamos na carta anterior, todo mundo só fala do teto fiscal, que para nós hoje é algo mais simbólico do que realmente uma solução sustentável para o tamanho do problema que temos. As dificuldades de emissão de dívida a custos próximos da Selic atual, ou da dívida atualmente em circulação, vão continuar, com ou sem teto de gastos. Caso não se tenha um choque de confiança, pode contaminar o crédito e atividade econômica.
Do lado político, tivemos menos ruídos, o que ajudou no desempenho da bolsa durante boa parte do mês. O presidente da Câmara dos Deputados e o Ministro da Economia até selaram um “acordo de paz”, o que foi interpretado como positivo pelo mercado. Até concordamos com esta visão, mas para nós está cada dia mais claro que o centro de decisão do governo mudou, e passou a ser guiado pelo presidente e pela sua nova base de apoio no congresso, o Centrão. A agenda de um está centrada na reeleição, e do outro em benefícios político-econômicos de curto prazo, aspectos que não “combinam” muito com rigor fiscal e decisões dificílimas que precisam ser tomadas. E do lado “oposto” a estes dois grupos estão Guedes e Maia.
Outro destaque foi a aceleração da inflação ao consumidor, mas o Banco Central preferiu “dobrar a aposta” num cenário benigno, de inflação passageira, mesmo com claro crescimento na dispersão do aumento de preços. O que para nós é mais relevante e sinal ruim, o BC já não consegue ancorar as expectativas, com a volatilidade do mercado de DIs por exemplo “lembrando a vol de construtoras listadas em bolsa”, e as curvas de juros precificando um cenário bem mais negativo que a previsão oficial dos economistas
Por último, do lado de atividade vamos começar a ver o impacto da redução dos programas de distribuição de renda, e depois do término destes (mesmo aprovado algum programa de distribuição de renda para 2021, este teria aproximadamente 1/3 dos beneficiários do programa atual). Nos últimos meses assistimos à um fenômeno que nós internamente “batizamos” de “milagre da multiplicação dos pães”. A poupança e os fundos tiveram captação líquida, muitos recursos foram levantados em ofertas de ações, a demanda final do lado de bens de consumo e imóveis com recuperação relativamente forte, tudo isto num contexto de desemprego alto e com melhora marginal na parte de emprego formal. Esperamos uma reversão parcial deste movimento para os próximos meses.
Apesar do risco fiscal já estar no radar de muita gente, parcela do mercado ainda se foca no tal teto de gasto, e acredita que a manutenção dele vai garantir uma transição tranquila. O cenário consenso para a recuperação da atividade econômica ainda é muito otimista na nossa opinião. E se e quando tudo isto acontecer, veremos o impacto claro na popularidade do governo, e o risco de decisões ruins só vai ficar maior.