3R Genus Hedge FIM – Carta Mensal Fevereiro/2021
Prezado Investidor,
O 3R Genus Hedge FIM (GH) rendeu 0,67% em fevereiro (+496% do CDI). Em 12 meses a performance acumulada é de +9,60% (+399% do CDI).
Neste mês os ativos de risco sofreram razoavelmente no Brasil e no mundo em função primordialmente do movimento de alta na taxa de juros das Treasuries americanas.
Se não bastasse isto, no front local o mercado foi sacudido pelo movimento atabalhoado de troca do CEO da Petrobrás, e a pouca clareza sobre como se financiará o pagamento do novo auxílio emergencial. Por fim, os números da pandemia no Brasil pioraram muito, e vários estados/cidades encontram-se próximos de um colapso de seu sistema de saúde.
Desde o segundo semestre de 2019, nossa visão é bem mais cautelosa do que a do mercado sobre o preço de ativos de risco. Depois de se mostrar vencedora no momento inicial da crise do ano passado, sofremos com a reação do mercado aos incentivos quase que ilimitados implementados pelos governos e bancos centrais do mundo. E o mercado parecia querer sempre precificar todos os possíveis benefícios, acreditar numa recuperação rápida, e sem custo futuro.
Apesar disto, mantivemos uma postura no geral cautelosa, por acreditar que este custo vai aparecer e acabar sendo precificado. Uma eventual alta no custo do dinheiro no mercado americano, no momento decorrente da leitura de que a economia vai acelerar muito, gerar inflação, e por isto os juros vão subir, é uma das maneiras que o tal custo poderia aparecer.
Mas mesmo neste cenário, muitos argumentam que a recuperação forte da economia é boa para ativos de risco, historicamente foi. Só que “historicamente”, no início deste movimento de recuperação da economia os ativos estavam a preços atrativos, muito diferente do que vemos hoje. Estamos partindo de uma base de valuation muito alta, criada pelo juro zero/negativo e programas gigantes de compra de ativos dos Banco Centrais globais.
No Brasil, os desafios são ainda maiores. Nossa visão tem sido de que o momento muito ruim da economia no começo do ano, o foco no projeto de reeleição, e a composição da coalizão política que agora dá suporte ao governo, além das características de personalidade de quem comanda o poder Executivo, são fatores que convidam para decisões ruins sob o ponto de vista da economia a médio/longo prazo. O movimento na Petrobrás é um exemplo, um anedótico disto.
Não vemos uma “guinada populista” do governo. A verdade é que a convicção “liberal” sempre foi limitada a um grupo, que agora perde espaço para políticos profissionais do tal Centrão e para o projeto de reeleição. Quando a agenda liberal coincidir com os interesses deste grupo e do executivo, esta poderá evoluir. Mas na maioria dos casos são agendas bem diferentes, o que deve limitar muito reformas estruturais de qualidade e/ou privatizações de verdade.
A recente decisão do STF é só um fator a mais de incerteza e que aumenta o risco de decisões/medidas ruins por parte do poder Executivo pensando nas eleições de 2022.
Junto a tudo isto, temos uma calamidade na gestão da pandemia, com o sistema de saúde próximo de um colapso. A vacinação deve ganhar tração em Março/Abril, mas dado o lagging para gerar queda de casos e internações, até o meio do ano deveremos conviver com restrições de circulação e com um consumidor retraído.
Neste contexto, continuamos: i) achando grande parte da bolsa de valores muito cara, ou cara; ii) os preços dos ativos estão antecipando um crescimento irrealista nas empresas: iii) precificação do risco muito baixa, o que se vê nas taxas de desconto utilizadas pelos analistas de mercado.
O mundo vai se recuperar ao longo do ano, com destaque para os EUA com um ritmo de vacinação agora bem acelerado. Resta saber o grau de recuperação, se os negócios fechados (e empregos perdidos) durante a crise conseguirão reabrir ou ser substituídos por outros.
Aqui o dano econômico será ainda mais profundo, e a recuperação deve ser bem mais lenta do que em outros países. Daqui até lá existe muito tempo para novas decisões ruins, que limitem e dificultem ainda mais a recuperação.
Deveremos ver ainda muita revisão para baixo nas projeções de crescimento econômico do Brasil para 2021 e próximos anos, o que deve levar a piora adicional das contas do governo, e que deveria ter também impacto nos lucros projetados para as empresas.
A economia e o fluxo de capitais global foram muito favoráveis ao Brasil nos últimos 6 a 9 meses, e o país aproveitou muito pouco disto. O que pode acontecer se tivermos um contexto negativo lá fora?
Setorialmente continuamos negativos com tudo o que é sensível a renda, a crédito, com consumo discricionário de maneira geral. O valuation e a percepção média dos investidores em relação a players de e-commerce, supostas techs e fintechs continua não fazendo sentido na nossa leitura. A diferenciação dos players é baixa, muita empresa “comprando CPF’s” ou comprando tráfego que não vão gerar receita e retorno no médio e longo prazo. Gostamos da exposição a exportadoras competitivas e consumo não discricionário.